quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Carta Manifesto




Tentei lavar a alma o mais que pude da tristeza que se abateu sobre mim e milhões de brasileiros que ainda tem uma fagulha de esperança no país. Lavei a alma para tentar encontrar no programa e nas falas do candidato Jair algum detalhe,  por menor que fosse, para justificar o seu número elevado de votos. Não encontrei um único ponto, um minúsculo grão de areia que representasse um futuro melhor para a sociedade, para os filhos e netos, para o ecossistema. Ao contrário; encontrei o ódio, o rancor, temores e tremores, a ira, algumas benesses para garantia das mesquinharias individuais, como o porte de armas.  E o início da instauração da violência. Assim começaram os partidos totalitários, os genocídios, as guerras. Tempos obscuros e isso me dá arrepios.
 Tenho princípios éticos que carrego desde a minha juventude. Esses princípios nunca se traduziram em ideologia, longe disso. Nunca acreditei no quanto pior melhor, nem no discurso da mentira dita milhares de vezes para se tornar verdade. Muito menos na criação de heróis nacionais. Nem na divisão do nós e eles, sem falar da corrupção.

Sem a presença de um pai desde os três anos de idade, a minha ética, e a de milhões de brasileiros, assim acredito, é a de um país menos desigual, que respeite as diferenças de raça, credo, gêneros e transgêneros. A favor, com veemência, para uma educação de qualidade espalhada nos rincões desse imenso país. Pela preservação das matas e florestas e seus habitantes indígenas, dos saci pererês, dos vaga-lumes, do candomblé, dos nossos orixás, das andorinhas, da pulsão da vida, dos mineirais e dos vegetais, dos pajés, curandeiros da alma, dos xam~as.  A favor do cuidado com crianças e jovens que, sem a presença do Estado, caíram nas mãos dos traficantes. A favor dos imigrantes. Sou filha de imigrantes, não importa de qual nacionalidade. Sou a favor da resistência, e não posso ser omissa neste momento. A favor do coletivo, da solidariedade. A favor da manutenção dos direitos humanos, do respeito aos cidadãos das favelas.  A favor da multiplicidade. A favor do saneamento básico, água potável e comida para todos. A favor do transporte das ferrovias e das hidrovias, dos carros elétricos. A favor da manutenção do Ministério do Meio Ambiente e da Cultura. O resto virá com o tempo.
#Haddad13
Namastê! Awhow! Saravá!

sábado, 2 de dezembro de 2017

Intensidades




14-junho-2017- Fico pensando no infinitamente infinito spinoziano. Escureceu mais cedo nesta tarde de outono. Estados de duração.  Abro a janela do alto do edifício, as luzes da maioria das casas já estão acesas mas os homens e mulheres que trabalham não devem ainda ter chegado em casa. Olho para o  trânsito, consigo cheirar a poluição que castiga os moradores desta cidade.  Há pouca gente na ruas, os cachorros estão quietos. Porque? Se já passa das !8h? Não há vento nem garoa, mas um céu nublado, um pisca intermitente de uma torre, algumas luzes amarelas.  Apenas um cachorro começa a latir. Já são todos urbanoides. A temperatura está baixa para esta época do ano. Eles devem estar com frio. Ouço o relógio de pêndulos na sala completamente quieto. Não estou só. Os objetos, móveis e todos os penduricalhos, as  plantas e a minha Julie,  estão um a um interligados no meu raio de pressentimentos.
30-junho- O cuco está quebrado. Não há som do tic-tac, mas ausência de som da engrenagem desse objeto. Deve haver som exalando dos assoalhos, da caixa do cuco, do porta perfume entalhado, das madeiras orvalhadas que se retraem serenamente no outono. Em cada ruído, uma duração, um tempo que passa. O som não é o tempo, mas ele conta o tempo. Como na batuta do maestro: um, dois, três…, dando início aos instrumentos. No outono, a cada alarme de carro disparado, é possível ouvir infinitas folhas secas rolarem, sem se dar conta de que é possível contá-las. É ouvir todos os dias de manhã a senhora de lenço amarrado varrendo a calçada se queixar das folhas secas no chão: - Quanto lixo! E todos os dias, até a minha Julie já sabe, que elas apenas são materialidades em decomposição, servindo de tapete para fazer arte de rua, pixando a calçada de amarelo ferrugem. Temporalidades distintas para Bergson, Einstein, Deleuze, Lapoujade, e quem mais. Muitos outros filósofos se ocuparam desse tema, como o pré-socrâtico Heráclito definiu aión como um tempo do acaso, do jogo e da brincadeira, ou um enorme período de tempo ou a eternidade, ou ainda transformado em kairós, o tempo certo ou oportuno. Quando o tempo é oportuno?
 O que conta? O eterno retorno, as estações, as colheitas, a rotina, as festas, o voltar para casa. Com o cronos, a flecha do tempo. Os segundos, a música, os séculos? Os ossos. Tudo conta. Como se conta cada uma das preciosas pérolas ou margaritas arrancadas com torniquete das ostras ou mexilhões, formando preciosos brincos, pulseiras ou colares, hoje cultivados artificialmente pelos japoneses, e vendidos a granel pelos chineses como pura imitação. Predadores dos mares, das pérolas, das baleias.  Viveremos mil anos no futuro, mesmo com ameaça do antropoceno? Haverá mundo por vir?, pergunta Viveiros de Castro. A ciência quer que nos submetamos a ela. Transformar a natureza das coisas, da materialidade e do espaço para um tempo, uma duração para além do tempo finito. Não se trata do infinito spinoziano. Ele se assemelha às temporalidades deleuzianas… infinito enquanto dure uma intensidade. Pode ser atemporal?
04-julho - Mas e as teorias outras que nos levam a vibrações distintas e a compossíveis  paralelos ? A escolhas que já fizemos através dos mantras, pensamentos, sentimentos e emoções? Sentada ontem na poltrona recebendo infusão no ambulatório quimioterápico lembrei com perfeição da pequena criança correndo agasalhada com uma malha listada de vermelho e branco, pernas nuas e pés descalcos recebendo o frio como quem compartilha, na língua do tatibitati, os seus segredos de gozo de pele gelada a um confidente especial, o frio. Uma grande descoberta. Corria e soltava gritinhos de alegria quando tentávamos alcançá-la. Alegria pura. Um instante, um momento que dura a eternidade.
Em oposição, recordei da mulher que varre a sua calçada me indicando um produto farmacêutico para queda do meu cabelo cortado com máquina três.
Três semanas depois do início do tratamento o chão do banheiro estava repleto de cabelo. No dia seguinte lá estava eu pedindo para passar a máquina. – Tem certeza? – Não é melhor esperar? Não! O mais difícil é a perda do cabelo, ia acabar ficando uns pequenos tufos, como muitos que arrancam os seus cabelos literalmente porque não há mais o que fazer. – Sim, corta. É melhor não cortar, mas arrancar a erva daninha pela raiz. Mas os cabelos… não, não. Cortar como podar, potencializar. Senti uma grande fadiga, as pálpebras tinham dificuldade de se manterem abertas. Olhei de viés para os meus olhos no primeiro exame positivo, e eles estavam caídos sem vida, perdidos em vazios.  – Tem muito cabelo ainda. Não precisa cortar agora. Raspa! Esperei tirar tudo, passei a mão na cabeça, e a sensação foi deliciosa. Gostei do espetado e só aí olhei para o espelho. – Parece um homem, vovó! Hoje ele passa a mão para fazer carinho. Kairós ou Aión? Um tempo oportuno que é pura intensidade.

11-julho - O tempo pode não contar, suspender, parar para as intensidades, mas é o terrível cronos que marca o conta-gotas da bolsa de remédios e veneno descendo pelo micro tubinho de plástico entrando direto na veia.  Antialérgico, corticoide, antinausea. Herceptin que vai em busca de ainda algum DNA intruso, e por fim a toxina que mitiga o nosso sangue, o taxol, responsável pela queda do cabelo e pelos, da cor amarelada da pele, vampiro que vai sorvendo e varrendo tudo o que está pelo caminho. O que vai acontecer? O corpo amolece sem resistência, os pensamentos cessam, mas não é possível dormir, sublimar o tempo. A vigília é constante, pode-se ouvir as batidas do coração, os gemidos dos órgãos, a saliva no canto da boca, quando tem. Deixa lá molhar o travesseiro, como uma velha. Aguarda-se a intensidade da vida, a palavra carinhosa que vou absorvendo a cada manhã que acordo, a cada noite que escorrego e desço pelos lençois, cobertor e edredon. Apalpo o travesseiro, as plumas de ganso se agrupam e a constante presença de uma mão passa pela minha cabeça quase sem cabelos. Aninhada, em paz, não há memória para visitantes inoportunos, apenas sensações. “A minha carequinha”, ele diz.

28-julho – Poucas foram as intercorrências. Com  procedimento da retirada da vesícula foram duas semanas sem as sessões de quimio, e  outras duas semanas com resfriado, que não atrapalharam as idas ao departamento de oncologia. Se tinha medo das picadas de agulha, dos remédios entrando no corpo, eles já não causam qualquer surpresa e são enfrentados virtuosamente, porque se aprende desde a primeira sessão que não adianta fazer beiço, cara de choro, de sofrimento. É pior, a veia estoura, e aí a a mulher de branco ameaça, vai doer mais porque a busca não cessa, mais uma espetada aqui e mais outra saltada, ou mais profunda. Dá para ouvir o som da agulha entrando na pele e só depois de um tempo que parece infinito, agulha e veia se encontram, fazem a a sua composição utilitária. Impiedosas todas elas.

10/10/2017 -     Para o nosso mundo, para realidade que conhecemos, é necessário o tempo, o cronos, a flecha do tempo linear, mas o inconsciente ignora o tempo. Diz isso Spinoza, a física quântica, o ativista quântico Goswami. Um salto para a não localidade, a intuição, buscar no inconsciente os Arquétipos atemporais e descobrir propósitos. E onde vivem os arquétipos? Fora do tempo e do espaço, na não localidade, onde é possível a comunicação sem sinal, instantânea. E isto parece ser místico porque transcende o tempo e o espaço da realidade material e a sua relatividade. Aqui no espaço tempo parece que tudo está separado, precisamos de sinais para a comunicação, dos dedos no teclado, do telefone, da voz, materialidades infinitas. Mas o digital só foi possível no campo quântico, diz Goswami. Difícil abstrair e sair da física mecânica, dos tubos de infusão, de todas as nossas vivências cotidianas. Mas há algo que não é matéria, vaga na não localidade. Potencialidades infinitas de transformação.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

2011 Diálogos possíveis Reflexão sobre diálogos entre os gêneros. O arquétipo da integridade.


Uma carta datada de 1970, escrita em São Paulo, esboça as transformações culturais e seus valores ocorridos na década de 60. A carta é um conto, uma ficção do escritor Raduan Nassar. Ali o protagonist rompe o seu relacionamento com Paula, sem uma exposição de motivos convincente. Não há explicações lógicas, mas ressentimentos e uma incomunicabilidade não apenas no léxico, mas numa incomodante conduta de liberdade e independência de sua parceira. Uma jovem intellectual sem subserviência e passividade, usufrui apaixonadamente da contra-cultura dos anos 60. O maduro autor da carta, no conto “O Ventre Seco”, declara
indiferença e muito cansaço em conviver com todas aquelas “gentes maravilhosas”. O abandono de Paula não se dá exclusivamente pela dificuldade de adaptação de um homem avesso aos tempos modernos ou pela ausência de atributos de feminilidade no masculino. Paula não é unicamente uma mulher independente, é algo mais como a avidez de tudo viver, tudo experimentar, a fome do ego-corvo que aceita cegamente o que aparecer. A criatura como corvo, segundo Clarissa Pinkola Estés, teme que a paixão termine, como há a sombra de um medo do fim do dia, do término do prazer, como uma criança egoísta que quer a melhor fatia, a cama mais macia, uma vida que pode se reduzir a cinzas, como as de Marilyn Monroe e Janes Joplin. (Estés, 1994, pg. 188).
Na década de 40, na obra “O segundo sexo”, Simone de Beauvoir, ao analisar as obras de D.H.Lawrence, relaciona entre os seus personagens marculinos uma má vontade em relação à independência feminina. Lawrence, diz Beauvoir, detesta as mulheres modernas porque estão sempre reivindicando alguma coisa, quando elas deveriam ser feitas para entregar-se, não para possuir, retratando nesse caso mulheres livres, dominadoras, falhando portanto em sua vocação feminina. Os heróis, segundo Beauvoir, os que aparecem em suas obras ou são condenados ou sábios, despontando arrogância e orgulho, cabendo à mulher subordinar-se, inclinar-se diante dessa divindade (Beauvoir, 1980. Pg. 266).
Existe certo desconforto, talvez amargura, nos poucos escritos de Nassar quando relacionados ao par amoroso. Em “Lavoura Arcaica”, a febre da transgressao, do excesso cometido pelo incesto culmina em tragédia, quando o pai descobre na erotica dança em família  o jogo da paixão entre os irmãos e em um só golpe mata a sua filha na presença de todos.  Ela a culpada, ela a depravada que aliciou o irmão para o pecado, e para o protagonista a absolvição, já que ao homem, na tradição arcaica, lhe dá o direito de perder a consciência, a racionalidade, quando é seduzido pelo demoníaco e prostituído feitiço feminino. Ainda no conto “Hoje de Madrugada” de Raduan Nassar, o protagonista insone, no seu escritório, ergue os  olhos da mesa e encontra outros olhos implorando um pouco de amor e afeto, e em troca ele responde com o silêncio da negação; e como se fossem objetos decadentes, desembaraça-se dos seus dedos passando por sua nuca, dos pés deslizando pelas suas pernas; não se surpreende com a obscenidade do seu corpo, o laço desfeito do decote, dos seios flácidos expostos, nem da expressão do rosto de sua mulher denunciando demência. Compaixão é para os fracos, para as mulheres, como o é também o sentimento de vingança, diz Niezstche. Tomas, no entanto, personagem de Milan Kundera, experimentou a compaixão. No romance “A insustentável Leveza do Ser”, Tomas, movido pelo desejo de se apoderar da infinita diversidade do universo feminino, tinha obsessão pelo relacionamento efêmero com tantas mulheres, era como se pudesse se apoderar de um minúsculo fragmento do feminino a cada encontro; no entanto, abandonou tudo por Tereza por compaixão, maior do que o seu próprio sentido, um co-sentimento, uma arte de telepatia das emoções e assim sentir e sofrer junto à frágil Tereza, e desistir até mesmo da artista e liberada Sabina. Mas essa leveza e inteireza tornaram sua vida insustentável.

Yin e yiang

Os pares amorosos de literatura menor também dão seus testemuhos de encontros e tragédias, afetos e desencontros e se mesclam à existência do cotidiano da mesma forma que os grandes clássicos. Um dilema universal centrado na diferença dos gêneros transcendendo culturas ou experiências particulares e seus contextos? Se há um consenso de que há incomunicabilidade entre os gêneros é porque as diferenças são marcantes. Se se fala da possibilidade da comunicação entre os gêneros não se elimina, da mesma forma, a viabilidade da existência da diversidade desses padrões. Simone de Beauvoir diz que ninguém nasce mulher, sendo a cultura, a sociedade a única responsável pelo devir mulher. Para a autora as diferenças teriam sido operadas pela dominação da sociedade falogocêntrica e patriarcal, irrelevante portanto a distinção fundamentalmente biológica do seu aparelho sexual, dos seus ciclos, da incubação gestatória e seus vínculos com a prole, além de sua fragilidade psíquica.
Para Richard Dawkins, o autor do “Gene Egoista” a espécie humana, como todo o reino animal, opera como máquina criada para a sobrevivência dos genes e esses genes, bem sucedidos, são implacáveis e egoístas. São eles, os genes, os replicadores e nós a sua máquina de sobrevivência, onde a evolução é um bem do indivíduo e não do grupo, lembrando que o macho seria potencialmnte capaz de fazer milhões de filhos todos os dias, e seriam por esse motivo os parasitas, e elas, as fêmeas exploradas pelo tamanho de seus óvulos, pelo tempo de gestação e a limitação do número de filhos. Um altruísmo puro e desinteressado seria difícil de ser encontrado na natureza. Em relação especificamente aos seres humanos, Dawkins considera que as diferenças da dinâmica biológica contam pouco e os seres humanos seriam investidos dos papéis que a sociedade e a cultura lhes impõem, seriam as memes, os replicadores culturais mais potentes do que os genes egoístas, mas é significativo o número da deserção familiar paterna. Mulheres e sua prole continuam a ser abandonadas. O biólogo Humberto Maturana, em oposição às teorias de Dawkins, acredita que a cultura oculta a natureza da dinâmica do bem-estar, do compartilhamento e do amor, seria a natureza espontânea dos primórdios do homo sapiens amans amans. O físico quántico Fritjof Capra tem a mesma linha de pensamento: os comportamentos destrutivos, o excesso de agressão partiriam do contexto e seus valores culturais.
Para além da cultura, no entanto, investigações e experimentos como o de Simon Baron-Cohen revelam que as diferenças de sexo não são apenas do aparelho reprodutor, mas de operações mentais entre os gêneros: a primazia do pensamento para os homens e o sentimento e as emoções para as mulheres.
É sabido que até as primeiras seis semanas de gestação em todos os mamíferos o padrão básico do desenvolvimento fetal é feminino, isto é, o sexo feminino é o princípio do mundo biológico, com a duplicidade idêntica dos cromossomos em XX. A partir portanto da sexta e a oitava semanas de gestação, com a produção das diferentes doses hormonais de testosterona, até então corpo e cérebro feminino, passariam por modificações específicas para o padrão masculino. Os estudos e experimentos sobre as habilidades mentais e comportamentais entre meninos e meninas indicam que as mentes masculinas são melhores em sistematização, uma capacidade de analisar, explorar e construir sistemas como se nascessem com uma física popular em sua constituição biológica. Ao passo que as meninas são mais bem dotadas para a empatia, o reconhecimento da singularidade dos sentimentos e desejos do outro. A tese de Baron-Cohen, sob essa perspectiva, é a de que haveria cinco principais tipos de cérebro e oscilações entre as habilidades e atributos femininos e masculinos, e na ponta estariam os excessos. Um cérebro extremamente masculino estaria correlacionado ao autismo, altamente sistemático mas nulo na capacidade de interação social, e do outro lado, o extremamente feminino que provocaria talvez a síndrome de Williams (Walzbort, 2005).
Se a origem do mundo biológico é o feminino, a forma primordial da sexualidade é da mesma forma a feminilidade, segundo Joel Birman, em “Cartografias do feminino”. Mas essas e outras características como a das incertezas, da singularidade e do heterogêneo e outras, não seriam privilégio apenas das mulheres, mas também dos homens, transcendendo os gêneros, perpassando os corpos. Essas oscilações entre os dois sexos não é novidade, faz parte do conhecimento milenar chinês sobre os arquétipos yin e yang. Os antigos chineses consideravam os olhos um órgão perceptivo masculino, o yang, dominador, agressivo, com orientação para a análise e superficialidade; enquanto o ouvido, a concha, o receptivo, o órgão yin, prestativo, intuitivo e espiritual, conforme Ernst Berendt.  Capra lembra que a atitude milenar da sociedade ocidental confere aos homens a maioria dos privilégios e papeis sociais sendo a origem da ênfase aos aspectos yang como competição, agressividade, pensamento racional, e certa supressão da orientação dos modos de consciência yin, ou femininos.
Para o misticismo oriental, a realização plena do ser humano seria alcançada pela unificação da dinâmica desses arquétipos. Essa simbolização da unidade dos opostos pode ser encontrada também na religião hinduista com a escultura de Shiva, no templo de Elephanta, como uma forma andrógina, metade macho, metade fêmea. (Capra). Para entender as oscilações dos arquétipos yin e yang, Capra faz uma ilustração com uma bola percorrendo um círculo em uma velocidade constante, e sua projeção reduziria a velocidade à medida que se aproximasse da borda, depois a aceleração e mais uma vez a redução da velocidade e assim um suceder em ciclos intermináveis.

Novembro-2017
Estas são pistas para a  exploração do Arquétipo da Inteireza, ou da unificação da dinâmica desses opostos, aprimorando em cada ser confiança, leveza de vida e inteireza sem precisar do outro. E encontrar nesse arquétipo a abundância e o amor incondicional, como uma forma inexplicável de alegria.
O Arquétipo da Inteireza foi amplamente discutido pelo ativista quântico Amit Goswami, em São Paulo.



quinta-feira, 1 de junho de 2017

O que vamos fazer com as "diretas já"?

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Envergonhados com a classe política, precisamos resistir a qualquer reforma econômica trabalhista e previdenciária. Mais do que “diretas já”, precisamos de uma reforma política, que seja urgente, premente. Mas como será isso possível, se o congresso não possui legitimidade nem ética para transformar esse quadro para as próximas eleições? Modesto Carvalhosa propõe indiretas para esse período e uma nova constituinte elaborada pela sociedade. Estaríamos assim mais preparados para as próximas eleições por alguns motivos: entre eles, a continuidade da lava jato retirando de cena muitos politicos que ainda estão soltos, e a possibilidade de surgirem novas lideranças engajadas com o social.  E vamos mudar o discurso midiático que reproduz exatamente os desejos escusos do governo de se manter a qualquer custo no poder para estancar a crise econômica com as reformas. A crise brasileira não é a economia, mas o monstro politico da corrupção. Estão todos se agarrando ao poder como famintos criminosos!!!

terça-feira, 4 de abril de 2017

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

vícios

Um novo consultório, um novo médico, um diagnóstico temeroso. Passadas duas horas, depois de analisar os exames dos últimos anos, depois de ter examinado meu corpo meticulosamente, além das perguntas sobre comportamentos diários, rotinas da vida vivida, ele se afastou da sua mesa, transformou-se, cresceu como um deus do Olimpo. Pousou fixamente o seu olhar em mim e disse: Precisamos cuidar  da sua doença! Timidamente, eu perguntei: Qual delas? E a sua resposta foi: Do vício da nicotina. Você quer se curar?
Deixei de fumar ali, na sua sala, passados 50 anos. E descobri que todos nós temos uma chave, uma chave única,  esquiza que se esconde em nossos escombros.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

"Lugar de ser e lugar de ter"

"O conluio entre o ter e o querer é notável.
No entanto, o que o aracniano nos ensina é que não se trata, para a aranha, de querer, por meio da tessitura e sua teia, ter moscas; é tramar que importa".
                         de Fernad Deligny "O aracniano  e outros textos".  n-1 edições