quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O tautismo de Lucien Sfez para estudo

SFEZ, Lucien. A comunicação. São Paulo: Martins, 2007.
150 pg. Sfez é francês, professor emérito da Univ. de Paris, onde atua desde 1989.
O livro “A comunicação”, escrito em 2004.
p/Helena Charro
Buscar tb. no dicionário de Ciro Marcondes Filho:
Sfez, Lucien (por Rose Rocha) e Tautismo (por Danielle Naves de Oliveira pg. 333)

Resumo:

Nunca se falou tanto de comunicação como na sociedade pós-moderna, tudo está contaminado pelo vocábulo, e no entanto é essa mesma sociedade que não sabe mais se comunicar consigo mesma, diz Sfez.
A sua obra é uma crítica à comunicação, tanto teórica como por suas práticas. Sfeiz propõe o bom senso, uma política de interpretação, ou até mesmo a ironia, zombar das diversas teorias, zombar do cenário da vida cotidiana (onde os conceitos comuns às ciências da comunicação tb. migraram para a vida rotineira).


Panorama
Anos 70 – primeiros delírios sobre a informática, privatização das companhias telefônicas, promessa do início de toda liberdade possível.
Anos 80 – multiplicação de canais de televisão, videocassetes, - promessa de democratização cultural.
Anos 90 – logorréia na internet, que chegou no séc. XXI como uma bolha esvaziada – internet – promessa da felicidade e igualdade, ciência e cultura, inteligência coletiva, democracia política e solidariedade entre os homens.

Comunicação tecnológica, que se pretende constitutiva de toda comunicação. No entanto, a coesão social é contestada, valores desagregados, símbolos gastos que não conseguem mais se unificar.

Comunicação se transforma em Voz única:
Homem e natureza (biotecnologia)
Homem e sociedade (audiovisual e publicidade)
Homem e seu duplo ( inteligência artificial)

Comuniquemo-nos por meio dos mesmos instrumentos que debilitaram a comunicação. Esse é o paradoxo.

INTRODUÇÃO (pgs. 9 a 29)

O ponto central da crítica da comunicação é a fusão de dois delírios, sem distinção: a teoria da representação e a da expressão:
Antes de falar sobre elas, ele recorre a três teorias explicativas:
1. a de Jürgen Habermas
2. a de Jacques Ellul
3. a de Pierre Legendre

1. J. Habermas – A teoria da ação comunicativa
A sociedade deriva de atos de comunicação que ligam os elementos civis entre si.
A comunicação está no social, na língua que é social, no implícito, no prejulgado. A comunicação não é maquínica, mas compreensiva. Ela emerge em momentos de ruptura. A vivência do mundo é captada, tecnicizada por atores responsáveis. Escapar da estratégias lineares do sucesso e se oriente para o entendimento. A comunicação está no núcleo do vínculo social.
Crítica às teses de Habermas por Sfeiz – Para Habermas, diz o autor, o entendimento se opõe ao sucesso, sociedade crítica a Estado, manipulado a manipulador. Sfeiz considera esses pressupostos ingênuos, e nada se encontra na tese de Habermas sobre a comunicação hoje, apenas um cenário de generalidades que pode servir de guia. Nada sobre as tecnologias do espírito, sobre a inteligência artificial, nada sobre a lingüística.

2.Jacques Ellul – O sistema técnico suprime a fratura objeto/sujeito, neutraliza tudo o que o cerca. O sistema técnico não se identifica com a própria sociedade, mas a influencia , O cidadão se torna propagandeado, e o homem político é vítima de ilusões de liberdade. O sistema técnico não gera nenhum sentido nem conteúdo, mas ele é determinante. Ele é a própria potência. A linguagem explode, bem como a sociedade, é o fim da comunicação. Ellul, diz o autor, visa ao retorno do sujeito, da intenção, do sentido, da transmissão (comunicação), para além do sistema.
A contribuição de Jacques Ellul, segundo Sfeiz – Dois pontos importantes: 1. O sistema técnico impede a comunicação porque a neutralizam, fragmentando e dividindo ao infinito os homens entre si. Babel moderna, nova punição divina. 2. Teologia da técnica – alienação suscita comunicações específicas, apropriadas.
Crítica a Ellul por Sfeiz – Ellul confunde a linguagem digital interna ao computador com a linguagem computacional, que se enriquece todos os dias. Sfeiz não aceita a idéia de que o computador não passa de cáculos. Mesmo não pensando o computador, segundo Sfeiz, se lança em circuitos imprevisíveis, aleatórios, que podem se reunir às imprevisibilidades humanas, estimular a reflexão, gerar, com o tempo, o novo. Esses erros em nada diminuem o alcance de Ellul, diz Sfeiz.

3.Pierre Legendre – Qdo. comunicar é partilhar: permite a identidade. “Eu destesto a palavra comunicação”. Socialmente a palavra é o império da força; a comunicação é um dogma, uma rede de proposições que nos remete ao princípio da autoridade.(Legendre 1982).
Contribuição de Legendre – Para Sfeiz a contribuição reside em seu elogio da censura institucional. Os teóricos da gestão empresarial pretendem impor sua verdade publicitária diretamente, para chegar aos fanatismos religiosos e políticos.
Crítica a Legendre – Não atinge o alvo comunicação de maneira precisa.



Três metáforas, três visões de mundo.
Sfeiz apresenta uma perspectiva teórica para a compreensão do processo de comunicação.As metáforas criam zonas e atração para os conceitos.

1. A representação e a bola de bilhar – A metáfora: a máquina
2. A expressão e a Creatura – A metáfora: o organismo
3. A confusão e o tautismo - – A metáfora: Frankenstein



A COMUNICAÇÃO REPRESENTATIVA (PG. 32 A 65)

(Pg. 333 Dicionário Ciro Marcondes por Danielle)
“Representação para Lucien Sfez, é sinônimo de mecanicismo. A tradição cartesiana tem, nesse caso, papel central. Há o primado do sujeito, o que torna a relação humano-máquina hierárquica e linear. O homem cria a técnica e faz uso dela sem se tornar seu servo. Trata-se de um esquema simples e, por isso mesmo, o mais poderoso, pois seus princípios estão amplamente presentes no cotidiano. O autor dás as seguintes palavras-chave e imagens-força para tal modelo: sujeito, emissor, receptor, conteúdo, sistema, direção, articulação, quantidade, mesura, eficácia, realidade, unidades discretas.
Nesse contexto, representativo, o processo de comunicação reproduz sua matriz mecanicista, funcionando como uma bola de bilhar: há dois sujeitos ou pólos que se colocam em relação. Um emite a mensagem e o outro recebe. A mensagem é como um átomo de informação e transmite através de um meio. Ao receptor cabe reagir ou retroalimentar o sistema, ou seja, dar um feedback. Em muitas escolas de comunicação ainda se ensina esse processo como se fosse único e inquestionável”. (Danielle)

I- A bola de bilhar

Primeiro princípio
Tudo está na linearidade do movimento, um modelo maquínico, cujos elementos se encontram nos princípios de Descartes.
O modelo é:
estocástico = porque é passo a passo
atomístico = porque a comunicação põe em presença dois sujeitos, átomos separados e indivisíveis.
mecanicista = em razão da linearidade do esquema de transmissão, que é uma máquina.

Segundo princípio
Um sujeito A, um canal com uma mensagem, um sujeito B. O movimento de transmissão, assim como a bola de bilhar, é continuamente animado. Qdo. a operação está concluída, o movimento atinge o estado de repouso.

Terceiro princípio
A exterioridade e a atomização dos elementos: eles não se interpenetram.

Uma máquina semiótica – semiologia estrutural
Sabendo-se da linearidade mecânica emissor-receptor, a questão é saber em que condições a mensagem pode atingir seu alvo.
Assim deve haver equilíbrio entre conotação e denotação, e a observação da redundância, para aumentar a capacidade de compreensão, repetimos os mesmo termos, etc.

O sujeito persiste
Presume-se que os dois sujeitos falem e desejam se comunicar algo.
A forma do modelo de bola de bilhar:
teleonômica: - a comunicação é orientada para um fim
antropocêntrica, ou até mesmo antropomórfica – a comunicação se comporta como se tivesse consciência de ser comunicação, assim como a bola quer ser uma bola.
A mensagem precisa ter um tratamento específico e esse tratamento é da alçada da teoria da informação.

Teoria da informação (IPS – Information Processing System)
Para que a série de unidades possa alcançar a extremidade da cadeia sem ser deformada, é preciso que algumas condições sejam respeitadas.
- referentes ao canal transmissor / - referentes à mensagem em si.
Na semiologia o canal era a própria língua, aqui o canal é fisicamente mensurável e modulável. Cuidar dos ruídos.

A entropia
Desordem, dissolução do sistema, O segundo princípio da termodinâmica.
Quanto mais informação há, mais aumenta a entropia.
A mensagem representa o emissor. A bola de bilhar informa e gera a grande diversidade, aqui assegura a teoria da representatividade, a raiz de todas as teorias clássicas, quer sejam as teorias do mass media (1940), quer sejam as de Simon e a inteligência artificial.
A metáfora máquina revela o conteúdo representacional e linear, o poder do homem sobre o meio, uma filosofia do domínio, um instrumentalismo. O homo faber, o inventor, fabricando modelos. Chomsky e Turing são os inspiradores diretos (teoria do discurso)

II – A inteligência artificial

Gramática maquínica (Chomsky)
Colocar em relação o processo computacional e o da linguagem humana
Computador: competência linguística se aloja no hard
Interpretação, efeito semântico é deixada para o usuário
A estrutura do dizer – a língua – é preferível à imprevisibilidade do dito. As idéias claras tem preço.

A medicina Turing –
Segundo Turing, é necessário refutar argumentos antimecanicistas. Imitation game: Um jogo pode passar por um teste de inteligência para o computador, se a máquina chegar a imitar o pensamento humano, então, de certo modo, ela, a máquina ganhou crédito.

A inteligência artificialissima de Simon e Newell
Ser individual, normal, a curto prazo. A teoria presente vê o homem como um processador de informação. O computador é uma instância de processador de informação. Sugerem essas duas frases que o homem deve ter por modelo o computador digital.
Um sistema de processos de informação é um sistema de signos. Daí as conseqüências: O sistema de signos repousa sobre uma concepção exclusivamente representativa. A representação é espacial. Eu a mantenho diante de mim, como uma paisagem, eu a considero como um objeto situado no espaço, no qual ela ocupa um certo lugar. Estruturas associativas do espírito que correspondem à associatividade das coisas no mundo.
A totalidade dos sistemas especialistas(geologia, direito, etc.) ou das máquinas de processamento de texto baseiam-se nesse tipo de pensamento.

Crítica = Dado que somos seqüenciais, exatamente como a máquina, podemos seguir uma só conversa por vez!?!! Tudo seria então transparente, visível e legível, sem opacidade alguma. Pura visão maquínica, que o homem produziu, mas é uma mínima parte de sua atividade. Nem tudo o homem decide pela racionalidade.

MEMÓRIA – Módulos de programas?????
III – A psiquiatria robótica
Manual para a psiquiatria robótica com diagnóstico correto. Pgs.55/56

IV - As concepções mecanicistas dos mass media
Como no caso da inteligência artificial, a reflexão sobre a comunicação é sempre um esquema clássico, cartesiano, representativo. O emissor é o todo-poderoso, é ele que aciona a bola de bilhar, a mensagem que atingirá o sujeito passivo, todo ouvidos, todo consentimento.

A dominação do emissor
Prevalece o modelo behaviorista de um estímulo e de uma resposta. O receptor passivo, em estado hipnótico, influenciado pela propaganda, a massa é plástica, maleável. O esquema da linearidade vem da teoria da informação de Shannon e Weaver. Shannon preocupava-se principalmente na transmissão e aquisição de sinais eletrônicos. O behaviorismo esqueceu essa nuance A idéia pavloviana do clique que gera uma reação, levando-nos a pensar que o destinatário está sempre sob o controle do emissor. A noção de feedback complica o modelo. Laswell : quem diz o que a quem por meio de qual canal com que efeito.. Os teóricos marxistas se preocupam sempre do controle exercido pelo emissor sobre a população. É o representar que é convocado como suporte desse modelo. Realidade de dois sujeitos e a realidade objetiva da mensagem.: o todo é formalizável, matematicamente, inclusive a circularidade cibernética, enquanto o ruído é visto como externo, perturbando a recepção.
Aqui, o emissor perde o poder: o papel dos intermediários
Mas não perde todo o poder. Aqui entra o mensageiro C, o que receptor de A e B. O fato de o intermediário servir como agente do destinatário constitui um importante deslocamento da problemática inicial, que concedia um peso exclusivo ao emissor.
O “two-step flow communication” (Veja tb. Lazarsfeld, Paul – Dicionário Ciro, pg.223/224).
O two step flow – Lazarsfeld = “teoria dos dois níveis, descobriu-se o papel desempenhado pelos líderes de opinião de grupos e comunicadades. Eles são as verdadeiras mediações entre os meios de comunicação e os indivíduos menos interessados. Além das técnicas persuasivas, o fator da influência pessoal. Esses fluxos sociais locais é que determinam a aceitação dos conteúdos propagados pelos media.” (Wilson)
Two-step flow é considerado como uma etapa, uma fissura no antigo sistema funcionalista, informativo, representativo da sociologia americana.

V – A comunicação representativa na ciência clássica das organizações (respostas-padrão)
A questão do uso da comunicação nas empresas. Comunicação como um dos elementos constitutivos da racionalidade limitada. A comunicação é considerada dentro de uma divisão interna do trabalho> Encontrar um modo de simplificar a comunicação substituindo normas que levam a resultados satisfatórios por critérios de otimização (Autores March e Simon). Comunicação como auto-regulação das instituições. Segundo o entendimento de Sfez, a comunicação surge então para permitir respostas-padrão, comunicação artificial, análogo à int. artificial. . Operatividade emissor-canal-receptor remete a trilogia da decisão: preparação-decisão-excecução. O preço: cegueira na observação.
Metáfora maquínica. A máquina é concebida de acordo com o icônico. Preposição “com”. Percepção: visão


A COMUNICAÇÃO EXPRESSIVA (PG.67/106)

“A expressão tem por metáfora o organismo ou “creatura”; Aqui é a filosofia de Espinosa que dá o tom. Não há mais a relação homem-máquina, afinal homem e máquina são conseqüência um do outro, eles se entregeram, ambos participantes do mesmo todo, do mesmo ambiente. Se antes havia sujeitos dominando objetos, agora há a complexidade da natureza, cuja imagem é a de um grande organismo vivo”. Segundo Sfez, as palavras-chave desse modelo são: meio, níveis, vivo percepção, forma, organização, reciprocidade, totalidade, desenvolvimento. Comunicar, mais do que transmitir, é expressar. E nesse caso tudo se comunica com tudo, não há mais predominância dos fins sobre os meios. Ora, simplesmente não há mais fins nem meios e toda teleologia perde seu lugar. Com isso, a totalidade da natureza e dos seres pode ser conhecida sem intermediação, pois suas partes contêm o todo. Cada humano comunica-se diretamente com os corpos inteiros de outros humanos e com seu entorno.” ( Danielle, pg. 333/334, in Dicionário Ciro)

Características da comunicação expressiva, segundo Sfez:
Hierarquias = talvez, mas misturadas umas às outras.
Sujeito e objeto estão ligados, mas por níveis.
A metáfora do organismo impera, tomando o nome de criatura.
I - Creatura ( Gregory Bateson – escola de Palo Alto), II – Auto-organização, III conexionismo, IV – mass media

I -Creatura
O mundo da organização viva e da evolução que, por sua própria natureza, são comunicacionais. É a Creatura que interessa a Bateson.
As idéias exprimem a natureza e não a representam. Com a expressão estamos no plano do audível. A audição instaura uma ligação com o tempo, que é da ordem da simultaneidade e não da seqüência. Passagem da imagem clara e distinta para a a da escuta variável.
O tempo torna-se circular. Nada de começo nem fim como a bola de bilhar. Aqui o querer é idêntico ao poder. O homem participa do todo e se comunica com o todo. A ordem e a conexão das idéias são as mesmas que a ordem é a conexão das coisas. Aqui a realidade exterior ao sujeito desapareceu, porque o indivíduo é capaz de favorecer seus bons encontros com o mundo.

1. da linha ao círculo
Monismo, circularidade, interação
O monismo. G. Bateson. Ataque ao dualismo atribuído a Platão, e entra a unidade sagrada da biosfera. O pensamento é história. Toda comunicação necessita de um contexto.
A circularidade. Visão ecossistêmica e cibernética Com a circularidade renuncia-se ao modelo de entropia. A mudança ou diferença é uma mudança de nível de informação, um reenquadramento, quer dizer, a criação de um contexto. Watzlawick: è pelo analógico que se constitui o contexto e é por ele que se chega à criação de um novo contexto.
A interação. A noção de circularidade leva à interação generalizada do observado e do observador. A interação se torna sistema. Uma certa originalidade, diz Sfez, desponta em Bateson: a interação se define por uma troca entre subsistemas, troca de informações caracterizadas por uma diferença. A informação é uma diferença produzida pela diferença. (Obs.: o sistema interativo dos clássicos é visto como procedimento de descrição). A interação em Bateson é vista como processo de mudança a construir. A circularidade é ela mesma ação.

2. A ruptura de Von Foester
Von Foester = “A comunicação é a interpretação, feita por um observador, da interação de dois organismos”. “A comunicação é uma representação interna de uma relação entre si e um outro, pois nada é comunicado, dado que tudo depende apenas do observador e que a atividade nervosa de um organismo não pode ser partilhada por outro organismo”.
Paradoxo, segundo Sfeiz = è ao mesmo tempo, necessário comunicar para entender os organismos vivos, suas interações, e para agir sobre eles, e é impossível comunicar, visto que tudo depende de nossa subjetividade. Subsiste, no entanto, uma tênue linha de divisão, uma linguagem conotativa imagética, aproximativa, analógica, ao qual escapamos ao solipsismo, criando entre nós, observadores, uma comunidade de observações..
É necessário que haja ao menos dois observadores para que o observado possa ser um observador. Realidade de segunda ordem, assim como em uma cibernética de segunda ordem, ela própria reinterpretada. Realidade da realidade, fórmula de Von Foester. Ele entende computação no sentido de putare, pensar com, contemplar ou meditar. Conhecer, uma recorrência incessante do pensamento ao pensamento.

3. Quadro da metáfora organística
A realidade objetiva não é mais necarada como um ojeto. Ela cede a uma realidade de segunda ordem, construída relativamente a nossas posições. O observador tem uma influência determinante sobre aquilo que pretende observar. Princípio de relatividade para nosso conhecimento. Mas a subjetividade é relativa. O observaodr não é solitário. Ele se sabe observado como quanto ele mesmo observa, esta posição é chamada de intersubjetividade ou subjetividade associada. O objeto se constrói em redes de observações conectadas, verificadas pela ação. A realidade de segunda ordem inclui seu próprio deslocado. Fechamento de um sistema relativizado não é um círculo fechado, uma seqüência sem fim. À medida que se fazem observações, a realidade se transforma em outra. O processo jamais se conclui, mesmo sendo de fechamento.
Um sistema organizado, como o são as máquinas ou os sistemas vivos, é um sistema que evolui porque é complexo, circular e hierárquico por níveis interconectado. Essa evolução depende da auto-organização. A auto-organização remete à não realidade externa, visto que não é de fora que recebemos informações, mas de dentro, pois a troca, entre diversos níveis produz a comunicação. (teoria de vários epistemólogos, biólogos, físicos, neurobiologistas).

II – A chamada Escola de Palo Alto
Inspirada em Bateson e Von Foester. È a metáfora do organismo
Preposição no – Estamos no mundo.
O ambiente, ao qual atribuímos a propriedade exclusiva de estar fora de nós, está, de fato, no interior. O organismo se constrói em espiral, cresce, esse é um aspecto de sua organização, que alguns chamarão de “autoprodução”. Tudo é comunicação. A comunicação vai refletir todo o jogo do saber e das atividades. Suas regras serão universais, ela reina.

1, Do indivíduo à orquestra
Nessa orquestra cultural não há nem maestro, nem partitura, cada um toca entrando em acordo com o outro.
O famoso doublé bind. – A mensagem é indecidível. : Não se pode reagir a essa mensagem, não se pode não reagir aqui. Parece pertencer ao campo da terapia familiar. Um indivíduo pode ser considerado louco por ter ao menos insinuado que talvez haja uma discordância entre o que ele vê e deveria ver.
A antropologia – O doublé bind tb. vincula estruturas sociais mais amplas: simetrias e complentaridade. Complementaridade: A mais autoritário e B cada vez mais submisso. Simétricos: Se A responde com presunção, B tb. responderá com presunção; então a competição logo chegará a extremos.
A lógica das classes – As classes lógicas permitem regular a contradição do doublé bind. – O indivíduo é membro de uma classe, mas a multiplicação dos indivíduos não tem como resultado a classe. Não entendi como pode regular a contradição.
Terapia – Paciente deve se comportar como de costume, que seja espontâneo. Mas se isso foi pedido a ele, ele deixa de se tornar espontâneo. É a determinação paradoxal.

2. Da teoria à experiência
O tempo da pesquisa-ação - A pesquisa-ação é eficiente. Seu tempo é diferente do tempo da pesquisa clássica. O ato terapêutico é breve. Chega de se referir a causas longínquas, e das intermináveis análises freudianas. Ele deve ser relativo ao contexto atual. Temerário investigar causas passadas. Convém estudar diretamente a comunicação de um indivíduo com seu meio. As causas são pouco importantes, os efeitos, fundamentais. O sintoma é fruto da interação contextual. Pg. 83
As metáforas de will e do self – Faça você mesmo suas desgraças. Esses conceitos pairam no horizonte como conceitos a estabelecer. ??????? Também não entendi. Como no livro de Lipovestky em que hoje somos livres e podemos escolher nossos próprios caminhos?

III – Auto-organização: fechamento e soluções

Von Foester insistia no fato de que o emissor e receptor da informação pertencem ao mesmo sistema. Aqui está a convergência de Von Foester, Maturana e Varela.
Postulados de Maturana e Varela
1. O mundo tem uma realidade objeiva, independente de nós como observadores, Esse postulado, segundo Sfeiz, permanece não demonstrado.
2. Conhecemos com a ajuda de nossos órgãos sensoriais, por um processo de projeção da realidade exterior objetiva sobre nosso sistema nervoso. A cor não existiria no mundo objetivo. A cor é uma fabricação interna do sistema nervoso.
3. A informação é uma profundidade física verdadeira, propriedade de todo sistema observável.
Se existe uma realidade objetiva, isto depende somente do sujeito. Não há realidade objetiva, mas uma ciência do sujeito.
- A faculdade de conhecimento é um sistema autopoietico, sistema homeostático que produz sua própria organização. Um sistema vivo garante sua própria geratividade e, por isso, se desintegra se parar de funcionar.
- O sistema nervoso é uma rede fechada de neurônios laterais paralelos, que atuam uns sobre os ouros de maneira recursiva. Aqui não há exterior, nem interior, mas fechamento. Não existe distinção alguma a ser feita entre percepção e alucinação.
- O sistema nervoso está acoplado ao organismo que o integra. Tem-se o acoplamento de
Duas fenomenologias: uma atemporal e fechada (sistema nervoso); outra histórica e aberta (a do organismo e do meio ambiente ao qual o sistema nervoso está acoplado).

O fechamento Varela
Varela reforça o pensamento da auto-organização. Tenta construir uma eoria dos sistemas autônomos que desenvolva e inclua a teoria de autopoise. A autopoiese não implica a não interação, é uma noção e não uma teoria para Varela.

Atlan circunscreve o problema –
Parece evidente que os sistemas são abertos, porque, se as trocas com o ambiente pararem, os sistemas morrem. Esses sistemas recebem correntes de informação do exterior ou de um ambiente já cartografado pelas projeções do próprio sistema, de modo que aquilo que proviesse do ambiente seria apenas um vetor de projeção anterior do sistema sobre o ambiente. Atlan corrige Varela. Trabalhos sobre troca de energia A mensagem é portadora de um sentido que não é o da multidireção ou da direção vetorizada de seus elementos. A significação só pode ser encontrada em um nível superior de complexidade. O ruído não produz a ordem, diz Atlan, mas a complexidade.

IV – O conexionismo ou a inteligência artificial expressiva.
Inteligência artificial – o conexionismo, A neurologia é convocada. A arquitetura neural desses novos computadores se torna importante. Possibilidade de simular processos paralelos em máquinas seqüenciais por conta do incremento da rapidez e capacidade da máquina. Progresso tecnológico e progressos da neurobiologia são constitutivos do neoconexionismo.

V – Mass Media expressivos
O destinatário desbanca o emissor. O todo está na mensagem, nas palavras não-ditas que ela evoca, mas tb. em toda atmosfera na qual as palavras são ditas e ouvidas. Tudo isso é comunicação. “Modelo Barnlund”.
Modelo Thayer - A presença do emissor não é necessária, mas é fundamental a presença do receptor. O receptor é de fato, criador de toda mensagem. O ruído exterior se organiza na mente do receptor. Os media desempenham papel de disparadores, como intensidades luminosas, que reconstruímos em nosso cérebro em formas, cores e objetos.
Fatores socioculturais. – O receptor inventa sua percepção de modo próprio. Pg.98
A coer(sedu)cão de Ravault - Redes e coerção e sedução. São elas que lançam mão da segunda mensagem que se torna alavanca de combate. O second step da comunicação que domina o primeiro.
A aculturação segundo Gerbner – O destinatário não é nada neutro. Existe uma possibilidade de interpretação crítica por parte do destinatário, mas só se ele tomar consciência, não de uma mensagem isolada, mas do conjunto de construções fictícias que os programas de tv oferecem.. Mas seguimos mergulhados em um mundo inteiramente fabricado por e para os grandes interesses econômicos dos trustes de comunicação. O mundo que nos mostram é um mundo ilusório, feito para agradar o maior número e que tem em poucas conexões com a realidade social e política. Os que assistem constantemente tv se comportarão como vítimas, se tornarão facilmente manipuláveis, normatizados; eles serão os mais repressivos contra todos os marginais, reivindicarão castigos implacáveis para os rebeldes de todas as ordens. Insegurança e mal estar entre os televisivos Nesse caso o receptor é muito ativo, ele reconstrói uma realidade diretamente extraída dos conteúdos do sistema de mensagens, é uma realidade segunda. A única via de acesso para a desalienação é a crítica.

VI – A comunicação expressiva na ciência nova das organizações.
Martin Landau = .A redundância. Ela tende a suprimir o erro e assegurar o mais alto grau de confiabilidade. Equipotencialidade. O 747 não pode funcionar normalmente com três motores e assegurar ainda um transporte sem riscos com dois?? Mas ele tem 3.
As redundâncias institucionais:- Quando um dispositivo não funciona já temos um outro pronto para substitui-lo. A redundância diminui os erros, atenua conflitos e até aumenta a produtividade.



Na comunicação expressiva: A realidade não é objetiva, mas faz parte de mim mesmo.


A COMUNICAÇÃO CONFUSIONAL (PG.107 A 147)

O texto abaixo é de Danielle (pg. 334, Dicionário Ciro Marcndes).
“A confusão tem o Frankenstein como metáfora e o tautismo como conceito. Está intimamente ligada à tecnologia que a aporta, uma espécie híbrida de máquina com organismo, de criatura que se volta contra o criador. É o embaralhamento total de referências, num movimento que acaba por anular qualquer tipo de hierarquia e de direção. Tal modelo obedece às seguintes palavras-chave e imagens-força: criação, imaginação, novidade, metamorfose, vontade, visão autorreferência, simulação. Entre seus autores mais representativos estão Mary Shelley, Douglas Hofstadler e Jean Baudrillard.
Essa figura tem uma grande força simbólica e, muitas vezes, ares de ficção científica. É tão real que parece irreal. O descomedimento vem de todos os lados: experiências genéticas monstruosas, clonagem, máquinas que pensam e (quase) sentem ,imagens que geram a si próprias, imagens enfim por todos os cantos e cientistas que são cobaias de si mesmos. A figura do irresponsável aprendiz de feiticeiro é tb. apropriada para esse caso.
No que diz respeito à comunicação, o tautismo atinge a confusão total entre emissor e receptor. “Diz Sfeiz: Num universo em que tudo comunica, sem que saibamos a origem da emissão, sem que possamos determinar quem fala, o mundo técnico ou nós mesmos, neste universo sem hierarquias, tudo se amontoa, a base é o topo, a comunicação morre pelo excesso de comunicação e se consuma numa interminável agonia de espirais”.
A esta altura fica claro que Sfez assume uma posição teórica pessimista. As tecnologias não são mais simples máquinas, tampouco participantes de um ambiente ou organismos. Elas são efeitos, mas que insistem em se camuflar em causas primeiras. Surgem de uma nova ciência, ela própria confusa, como se vê nos princípios da inteligência artificial e das ciências cognitivas. Por isso, agora chamadas de “tecnologias do espírito” (Danielle)

“O tautismo faz parte de um esquema triádico formado por “representação”, “expressão” e “confusão”. De acordo com Sfez, “ cada um desses três modelos engendra sua própria epistemologia, sua visão de mundo e de comunicação. E produz, respectivamente suas próprias tecnologias. Os dois primeiros, embora antagônicos, são de certa forma complementares. Mas a confusão – terceiro modelo – vem como resposta ao embaralhamento da representação com expressão, dando origem ao tautismo. (Danielle, pg. 333, in Dicionário Ciro)
“Tautismo –neologismo obtido da combinação entre tautologia e autismo.
Tauto, do gr. Tauto, o mesmo – logia: logos. A fala do mesmo.
União dos termos tautologia e autismo.
Da tautologia sabe-se que é uma repetição lógica, em que o resultado de um raciocínio é igual à sua proposição, tb. pode ser expressa numa oração cujo predicado nada acrescenta ao sujeito, por exemplo: A mulher é fêmea. O autismo caracteriza-se por um distúrbio ou estado mental de fechamento, de criação de um mundo próprio com pouco ou nenhum contato com o exterior. “A fusão desses dois elementos leva ao tautismo, modelo de comunicação marcado pela autorrefencialidade, circularidade, impossibilidade de troca e, consequentemente, por totalitarismo.” (Idem)

Tautismo – confusão – Baudrillard, entre outros – Metáfora Frankenstein – Preposição “pelo” – Multimedia – Ciências cognitivas e teorias da inteligência artificial.

Algumas características da comunicação confusional
Aqui há a quick therapy –
Repetição = De tanto falar nada mais é dito.
Roçamos na sociedade do simulacro de Baudrillard.
A comunicação organiza o corpo do receptor e o estrutura como sujeito segundo de uma realidade segunda. Sujeito e ambiente estão confundidos. O processo da comunicação só leva em conta o mero vaivém de um diálogo sem personagem. Só leva em conta a si mesmo, isto é, a comunicação em seu próprio objeto. Tautologia.
A posição de Baudrillard – a realidade remete à ficção e onde a ficção é a própria realidade.
Se a realidade se tornou uma noção sem conteúdo real, se a mensagem não tem mais sentido, se não há mais fronteiras entre o fora e o dentro, se a própria expressão se torna uma construção oca, pois tudo o que lhe resta é se repetir indefinidamente como seu mesmo, sem diferenças, então a mensagem desses profetas deve ser tratada da mesma maneira..
Pode-se escrever o mesmo sobre as teorias e as práticas da publicidade, do marketing e das pesquisas de opinião.


CONCLUSÃO GERAL (pgs. 143 a 147)
Contra a comunicação confusional: a interpretação

O autor não se opõe à comunicação, mas quando a comunicação não quer dizer nada.
É a comunicação confusional que é perigosa, que se opõe a uma política de bom senso e da interpretação.
A devoção para com a técnica toma ares de religião, sacraliza ídolos, idolatra imagens.
A ironia é um belo modo de expressão do bom senso. As máquinas não emitem mais uma mensagem eletrônica imperturbável. Elas se tornaram napolitanas.
O superficial assume o papel do profundo
A profundeza que habita a fala e o programa não suporta.
Se a interpretação é parte integrante da comunicação e se, por outro lado, referimos essa interpretação à função simbólica, à medida que ela lê e liga os signos entre si pela mediação de símbolos interpretantes, devemos tb. reconhecer que ela se situa no lado oposto ao da confusão tautística.