quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Dialogismo

Querida Carolaine:

A fórmula infalível para combater a celulite é entrar na menopausa.

Intertextualidade

Combatendo os males na terra da abundância:

Na ansiedade tome 4 comprimidos de Ansiodoron (homeopático)
Para stress e depressão outros 4 comprimidos de Stressiodoron (homeopático)
No combate à TPM, 2 comprimidos ao dia de Prímores (erva medicinal), por pelo menos 3 meses.

Indivíduos abandonados à própria sorte

Resumão

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade Paradoxal. Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.


Segundo Lipovetsky estamos no terceiro ato das economias de consumo. O primeiro ciclo considerado como o consumo de massa, começa por volta de 1880 e termina com a segunda guerra mundial, com o surgimento das grandes marcas, dos produtos acondicionados e o início da publicidade. Em 1950 surge a segunda fase consumista, constituindo-se fundamentalmente pela grande ruptura cultural, desligitimando os valores vitorianos e ideais de abnegação e sacrifícios. E o último, nosso contemporâneo, iniciado na década de 70 denominado como a fase do individualismo, do hedonismo e do hiperconsumo, onde o homem se serve da abundância das coisas para satisfazer no consumo das coisas seus desejos imediatos, um gozo instantâneo privado. A civilização do desejo. Liberado, o indivíduo é legislador de sua própria vida, permitindo-se sem culpas e remorsos ter o gosto exacerbado pelas novidades. Não há resistência para o homo consumatur, o ethos mercantilizado se consumou. Não há retorno nem catastrofismo para a sociedade do hiperconsumo, segundo o autor. Mas a despeito dessa exibição de abundância, o homo felix é uma ilusão. A felicidade escapa ao controle, ela é imprevisível e enigmática e tem acesso restrito, o seu acesso está além do império do consumo.
Diferentemente das fases anteriores, neste ciclo almeja-se objetos para viver bem, sentir sinestesias, viver experiências muito mais do que exibi-las. Assim as mercadorias apresentam-se como signos experienciais, como um consumo para busca de felicidades privadas, signos que não exteriorizam riqueza ou sucesso, mas que prometem criar ambiências personalizadas, criativas e de estilo. O gosto pela comida mestiçada, o casulo do lar com a identidade do seu dono, a mania e o fetiche pelas marcas; e a espiritualidade não escapa ao neoconsumidor, também é comprada e vendida. A distinção de classes tem seu fim nesse ciclo, diz o autor.
Segundo recentes pesquisas, os franceses riem pouco, diz Lipovetsky, não mais que cinco minutos por dia. O riso civiliza-se. O riso fácil é contido, a gargalhada é vulgar como também o é Dionísio, deus do vinho e da licenciosidade. Não há tempo para ser Nêmesis, a deusa da inveja, porque é a era de um Narciso especial, vigilante, obcecado pela imagem, pelo peso e pelo consumo de produtos saudáveis. No trabalho, ansioso, almeja sempre ser reconhecido. E os franceses consideram-se felizes. Seria duro demais tornar público o seu fracasso.
São 370 páginas (ups!!) descrevendo e argumentando o ethos da contemporaneidade mercadológica, de um lado mazelas, violência e solidão, de outro a relação do conforto, bem estar, a sedução das grandes vitrines, dos lazeres, das viagens. Um ethos egóico, como diríamos nós.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Um acontecimento*


Amplas janelas, vistas para o fundo do pátio com algumas árvores, os prédios, as casas. O ambiente interno bastava. No chão um carpete de cor neutra, em cima, cerca de 20 esteiras de borracha com grandes lenços ou toalhas coloridas cobrindo cada uma delas, e as almofadas individuais. Três degraus acima, mais duas esteiras, ao centro um balcão de alvenaria com algumas estátuas de bronze, um retrato emoldurado, dois vasos de flores, algumas velas; no pilar ao lado, caixinhas de lenço, as caixas de som, uma pilha de cds , os sticks perfumados.
Pés descalços, roupas confortáveis, uma vela acesa, a vibração no corpo da emissão dos sons, primeiro o som primordial, o som da criação do Universo, da pulsação do próprio cosmos, do mantra om, seguido de outros sons igualmente construídos com palavras do poder, do mantra que protege que esvazia pensamentos, ou simplesmente vê esses pensamentos passarem. Como vem, vão, pensamentos despertencentes.
Depois um cd escolhido, uma música de sons da natureza, os pranayamas e em seguida os asanas. E foi ali entre os triconasanas com os braços estendidos ao lado do corpo, com as palmas das mãos erguidas, distante uns 30 centímetros de outro corpo sem nome, sem rosto, o surgimento de um acontecimento, um fluxo movente de troca de energias, entre duas massas distantes e distintas, um incorpóreo, invisível, um roçar de spins saltitantes. Dois corpos aquecidos conectados em eventos especiais.

* Título inspirado na obra de Ciro Marcondes Filho: Princípio da razão durante. Por uma teoria do acontecimento em comunicação. São Paulo, Paulus, 2009, no prelo.
** pintura em acrílico, helena charro, 2007.