quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Um acontecimento*


Amplas janelas, vistas para o fundo do pátio com algumas árvores, os prédios, as casas. O ambiente interno bastava. No chão um carpete de cor neutra, em cima, cerca de 20 esteiras de borracha com grandes lenços ou toalhas coloridas cobrindo cada uma delas, e as almofadas individuais. Três degraus acima, mais duas esteiras, ao centro um balcão de alvenaria com algumas estátuas de bronze, um retrato emoldurado, dois vasos de flores, algumas velas; no pilar ao lado, caixinhas de lenço, as caixas de som, uma pilha de cds , os sticks perfumados.
Pés descalços, roupas confortáveis, uma vela acesa, a vibração no corpo da emissão dos sons, primeiro o som primordial, o som da criação do Universo, da pulsação do próprio cosmos, do mantra om, seguido de outros sons igualmente construídos com palavras do poder, do mantra que protege que esvazia pensamentos, ou simplesmente vê esses pensamentos passarem. Como vem, vão, pensamentos despertencentes.
Depois um cd escolhido, uma música de sons da natureza, os pranayamas e em seguida os asanas. E foi ali entre os triconasanas com os braços estendidos ao lado do corpo, com as palmas das mãos erguidas, distante uns 30 centímetros de outro corpo sem nome, sem rosto, o surgimento de um acontecimento, um fluxo movente de troca de energias, entre duas massas distantes e distintas, um incorpóreo, invisível, um roçar de spins saltitantes. Dois corpos aquecidos conectados em eventos especiais.

* Título inspirado na obra de Ciro Marcondes Filho: Princípio da razão durante. Por uma teoria do acontecimento em comunicação. São Paulo, Paulus, 2009, no prelo.
** pintura em acrílico, helena charro, 2007.



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