sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Diálogos entre Capra e da Vinci

A grama é nobre em si própria sem a linguagem ou letras humanas
Leonardo da Vinci


Se Leonardo da Vinci foi imortalizado como um dos maiores gênios da pintura de todos os tempos com a produção de obras como Gioconda e a Santa Ceia, suas teorias científicas, no entanto, foram ocultadas por aproximadamente 500 anos. Se Galileu tivesse tomado conhecimento de toda a produção científica de Da Vinci, certamente o curso da ciência no ocidente teria tomado outro rumo, diz Fritjof Capra* em palestra proferida em São Paulo, no lançamento do seu mais recente livro “A ciência de Leonardo da Vinci”.
Segundo Capra, da Vinci não tinha interesse em fenômenos sociais e políticos, estava sim interessado nas relações entre os seres vivos, na dinâmica da natureza onde considerava que nada era supérfluo ou em demasia. Era um romântico vegetariano que não queria maltratar os animais e tinha uma perspectiva ecológica, uma preocupação com o ambiente e sua cidade. A produção artística estava ligada amorosamente ao desenvolvimento da sua teoria, isto é, através da sua habilidade visual – que chamou de janela da alma - estudou, pintou e desenhou meticulosamente as formas orgânicas relacionando-as à sua teoria que contém semelhanças com o novo paradigma científico dos sistemas auto-organizadores deste século. Da Vinci recebeu treinamento por volta de 1460, quando o pensamento da época estava ainda emaranhado pelo obscurantismo da Idade Média, quando os experimentos e ciência eram mal vistos, ocultados e desencorajados.
Estes alguns dos muitos detalhes que Fritjof Capra faz ressurgir em seu livro. A sua pesquisa demorou cinco anos, e precisou de mais dois anos para escrever sobre Leonardo, reconhecendo que a ciência do renascentista é um corpo sólido, contém uma visão global analógica à teoria sistêmica, além de ser inspiradora: Leonardo perseguia a ciência não para dominar a natureza, mas aprender com ela. Para escrever o livro, Capra, que fala italiano, recuperou e traduziu cerca de 8 mil páginas escritas e dispersas em cadernos de anotações, bibliotecas e museus espalhados pelo mundo deixados por da Vinci, que era canhoto e escrevia da direita para a esquerda.
Uma pergunta da platéia sem resposta, no final da palestra de Capra: Não estaria faltando à arte contemporânea talento, amor e ciência, o mesmo que Leonardo conseguia unir em seus trabalhos artísticos?



* Autor de “O Tao da Física”, o físico Fritjof Capra proferiu palestra na livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, no dia 12 de novembro.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A busca da quietude


"Quando a mente é perturbada, produz-se a multiplicidade das coisas; quando a mente é aquietada, a multiplicidade das coisas desaparece.” Ashvaghosha














Ao centro, a yogue e profa. Beatriz no espaço de Prema Yoga,
rua Plínio de Moraes, 21, Perdizes.

“Temos físicos sondando a matéria com a ajuda de sofisticados instrumentos, e místicos sondando a consciência com a ajuda de sofisticadas técnicas de meditação.” “Ambos alcançam níveis não-ordinários de percepção, nos quais os padrões e princípios de organização que observam parecem muito semelhantes.” Fritjof Capra



“Se falarmos da experiência de espaço na meditação, estaremos lidando com uma dimensão inteiramente diferente. (...) Nessa experiência de espaço, a seqüência temporal é convertida numa coexistência simultânea, a existência lado a lado das coisas (...); isso, uma vez mais, não permanece estático, mas torna-se um continuum vivo no qual o espaço e o tempo acham-se integrados.” Lama Govinda


“A abordagem sistêmica, da teoria dos sistemas vivos e auto-organizadores, leva a uma concepção unificada de vida, mente, matéria e evolução. A abordagem sistêmica confirma os paralelos entre a física e o misticismo”. Firjof Capra

sábado, 8 de novembro de 2008

As neuroimagens confirmam

. O cérebro não distingue o imaginário do real. As reações cerebrais são idênticas.

. A teoria subliminar :
- a retina pode não ver determinados eventos, mas o cérebro capta e reage a eles.
- sons inaudíveis, da mesma forma, são captados pelo cérebro.

É o que nos informa o jovem neurocientista mineiro Edson Amaro Jr., palestrante do 69º Fórum do Comitê Paulista para a década de Cultura da Paz, em parceria com a Unesco, no Masp, dia 4 de novembro de 2008; também entrevistado por Marília Gabriela no GNT, indo ao ar no mesmo dia.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A Comunicação como Acontecimento

Com a preocupação de diluir estruturas, desconstruir revelações engessadas no campo acadêmico da Comunicação, o professor Ciro Marcondes Filho, filósofo da comunicação na ECA, USP, introduziu o seu novo conceito sobre Comunicação e o seu não método, o Metáporos, em palestra proferida no seminário de Interprogramas na PUC em São Paulo*.
Segundo Ciro Marcondes há um impasse ontológico na área de Comunicação porque há quase 40 anos trabalhando como professor e pesquisador nessa área, considera que nunca se pesquisou sobre a própria Comunicação. Esta disciplina tem sido um simples rótulo, um cruzamento com outras áreas como sociologia, antropologia, política e economia. Segundo ele, para consolidar um saber é necessário colocar inicialmente o que vem a ser Comunicação, qual a sua primeira natureza com um método entrelaçado ao objeto de estudo.
Desde a década de 70 as Faculdades de Comunicação Social no Brasil têm crescido num ritmo vertiginoso. Em 99 eram 263 faculdades oferecendo 365 cursos de graduação, entre eles publicidade, jornalismo, relações públicas, rádio e tv, cinema, produção editorial e comunicação social (2). A proliferação da mídia linear e em rede acabou por se consolidar e está incorporada no hábito dos cidadãos, quer seja no trabalho, na cultura, no entretenimento. A procura pelos cursos de comunicação, portanto, além de ser um atrativo aos jovens para se inserirem nesse texto tecnocultural mágico e mesmo transformador antropológico da sociedade contemporânea, é também uma questão de demanda.
As interfaces com outras disciplinas, da mesma forma, ganharam contornos expressivos na pesquisa de campo e sua conseqüente produção acadêmica. Assim, a transdisciplinaridade ganha força para o seu aperfeiçoamento também na reprodução e na sua aplicação (2), não apenas para o campo da comunicação, mas transitando entre as diversificadas ciências. Mas não só, o verdadeiro pesquisador, o investigativo e farejador que não encontra respostas suficientes para seu objeto de pesquisa dentro das ciências humanas e sociais, percorre outras ciências como a matemática, a física moderna e as neurociências. Como tantas outras teorias, a de Gaia que postula a Terra como viva, surgiu dos trabalhos do químico especializado na química atmosférica James Lovelock com a pesquisadora científica em microbiologia Lynn Margulis (3). Não se pode esquecer ainda que a literatura catalogada nas livrarias como esotérica, tem sido cada vez mais consultada por pesquisadores que ousam ao não científico.
E é da conjunção, da união da diversidade do conhecimento que Marcondes Filho propõe a sua nova teoria da Comunicação, para nortear estudos de caso e investigação, que dê curso “um sonho de ciência mutante, que se transforma a cada momento e que, nem por isso, perde seu rigor e sua capacidade de construir saberes (4) no prelo.

A Teoria da Comunicação e o Metáporo

O que é comunicação? Segundo Marcondes, é pueril afirmar que comunicação caminha linearmente de um ponto a outro, entre o receptor e o emissor, por um determinado canal, por onde passa uma determinada mensagem. A comunicabilidade, ao contrário, seria etérea, estaria num continuum amorfo atmosférico, nômade, sem definição de espaço, um incorpóreo, um fluxo, uma nebulosa, sem previsão de chegada e sem tempo definido. Segundo o autor há três níveis de comunicação: o primeiro seria uma simples sinalização, no segundo nível entraríamos na informação, e apenas no terceiro patamar teríamos a comunicação, que não apenas informa, mas transforma. A teoria da informação visa o controle do outro, informar-se para se abastecer, para manter o que você já tem consolidado, ao passo que no terceiro nível encontramos o acontecimento comunicacional, sem objeto delimitado, um objeto que é novo, ágil, cobrando do procedimento investigativo uma atitude igualmente dinâmica, que seja um objeto transitório, assentado no movimento. Comunicação é, portanto, "um acontecimento que produz o novo. A emergência do nunca-antes-dado, daquilo que marca o inusitado, o inesperado, o incomodante, o perturbador, o irritante” (4). É um acontecimento que me transforma e que incorporo, diz o autor, e é precisamente nessa transformação que o sentido surge extrapolando o campo da língua, possibilitando o acesso ao que não se possui. O investigador, por outro lado, precisa poder se misturar nesse acontecimento, onde o eu se desfaz, liquefaz nos acontecimentos e nos fatos. O procedimento de estudo e investigação deve ter um percurso igualmente nômade, que vai atrás dos fenômenos como produtos de um jogo de acasos, andar sem metas, utilizando, como ele diz, as metáforas de “Alice no país das maravilhas”, um caminhar errático, não traçado. Esse o não método, que varre o caminho viciado, a repetição, e na sua errância vai abrindo suas passagens em busca de algo, como Alice segue atrás do coelho branco, exigindo que o investigador esteja imerso e vivencie o acontecimento, e onde o estranhamento persista no seu estranhamento (4).
Não existe modelo de verdade e as normas científicas existem para serem burladas, diz Marcondes. E a questão comunicação, o saber comunicacional sob esse novo paradigma pode continuar a incomodar.

P,S, As intervenções da platéia sobre a teoria e o metáporos foram modestas. Não se sabe sobre os bastidores.
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*V Interprogramas (proposta do pesquisador L. Martino da UNB), sediado na PUC-SP, no dia 28 de outubro de 2008.
Veja mais: http://mclpublica.blogspot.com/2008/10/interprogramas.html

(1) CANEVACCI, Massimo. “Polifonia dos Silêncios”. In: Matrizes 2 – Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP. Abril de 2008.
(2) LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. “Sobre o Estatuto disciplinar do campo da Comunicação”. Epistemologia da Comunicação. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2003.
(3) CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Cultrix, São Paulo, 2006.
(4) MARCONDES FILHO, Ciro. A Razão Durante. São Paulo, 2009, no prelo.